Morfema zero
Nesta postagem falaremos
sobre pontos fundamentais da morfologia que são os processos morfológicos, o
conceito de morfema zero e de alomorfia. Esses conceitos nos ajudam a entender
melhor a morfologia da palavra, por isso são tão importantes.
Para começar falaremos sobre morfema zero. Porém, antes de qualquer coisa, gostaria de retomar a noção de morfema proposta por
Bloomfied (1926): “forma recorrente (com significado) que não pode ser
analisada em formas recorrentes (significativas) menores", ou seja, é a
unidade mínima de significado.
Visto isso, vamos agora para o conceito de morfema
zero. Segundo Gleason (1961:80), pode-se dizer que há
morfema zero somente quando não houver nenhum morfe evidente para o morfema,
isto é, quando a ausência de uma expressão numa unidade léxica se opõe à presença de morfema em outra.
O tema do pensamento a cima, da personagem de tirinhas Mafalda, é sobre
o amor e faz uma crítica aos relacionamentos da nossa sociedade atual. Pensando
no tema do pensamento, vamos analisar agora o verbo amar, e encontrar os morfemas zero. Primeiro vamos conjugá-lo no
presente do indicativo:
Eu amo
Tu amas
Ele ama
Nós amamos
Vós amais
Eles amam
Tu amas
Ele ama
Nós amamos
Vós amais
Eles amam
Vamos analisar o sufixo modo-temporal. Podemos perceber que em todas as
pessoas em que o verbo foi conjugado este sufixo é o morfema zero. Por que?
Pois esse sufixo não está visível na palavra, seu lugar está vago, por assim
dizer. Vejamos melhor:
Eu amo – SMT {O}, SNP {-o}
Tu amas – SMT {O}, SNP {-s}
Ele ama – SMT {O}, SNP {O}
Nós amamos – SMT {O}, SNP {-mos}
Vós amais – SMT {O}, SNP {-is}
Eles amam – SMT {O}, SNP {-m}
Tu amas – SMT {O}, SNP {-s}
Ele ama – SMT {O}, SNP {O}
Nós amamos – SMT {O}, SNP {-mos}
Vós amais – SMT {O}, SNP {-is}
Eles amam – SMT {O}, SNP {-m}
Legenda: SMT = Sufixo
modo-temporal
SNP= Sufixo número-pessoal
SNP= Sufixo número-pessoal
{O} = morfema zero
Alomorfia
Analisemos agora esta imagem. O que ela representa?
Podemos ver que existem milhares de bolinhas azuis com carinhas tristes
e apenas uma bolinha de cor amarela com a carinha diferente. A bola amarela
está diferente de todas as outras, ela está variando. E isso está relacionado
com o que veremos agora... alomorfes!
O prefixo {alo-} vem do grego {állos-} e expressa outro, diferente, diverso, em um mesmo contexto. Quando um mesmo fonema aparece com dois sons diferentes dizemos que ele sofreu uma alofonia, e cada um dos sons que ele assume é chamado de alofone. Assim como acontece em fonologia, na morfologia as diferentes formas que um mesmo morfema pode adquirir, graças ao dinamismo da línua, é chamado de alomorfes e ao processo de variação de forma única, dá-se o nome de alomorfia. Segundo Petter, os alomorfes são variações de um mesmo morfema. Vejamos os exemplos encontrados em seu livro:
(I)
FELIZ, CRÍVEL, GRATO, REAL, MORTAL, LEGAL, ADEQUADO,
HÁBIL, NATURAL
(II)
INFELIZ, INCRÍVEL, INGRATO, IRREAL, IMORTAL, ILEGAL,
INADEQUADO, INÁBIL, INATURAL
É possível observar que
no item (ii) o segmento inicial tem sempre um valor negativo e pode ser
expresso foneticamente como [i], [in], [i] nasalizado. Ou seja, existem
variantes de um mesmo morfema, porém vale ressaltar que eles podem ocorrer em
qualquer morfema, mas nunca acontecem no mesmo contexto que o outro.
Processos morfológicos
Agora falaremos sobre os processos morfológicos. Segundo Petter (2010), o processo morfológico
é a “associação de dois ou mais elementos mórficos produzindo um novo signo
linguístico”, essa associação pode ocorrer de diferentes formas e pode ser de
adição, reduplicação, alternância e subtração. Vejamos agora cada um deles.
I) Adição: Como a própria palavra sugere, são afixos adicionados à base
do vocábulo, ou seja, a raiz ou o radical primário (conceito de raiz e radical
já foram vistos em postagens anteriores). O processo de adicionar afixos é
chamado de afixação e pode ocorrer das seguintes maneiras:
a)
Prefixação: afixo inserido antes da base.
Exemplos: feliz -> in-feliz; ver
-> re-ver
b)
Infixação: afixo inserido dentro da base. Não
acontece na língua portuguesa.
c)
Sufixação: afixo inserido depois da base.
Exemplo: casa -> casa-s;
livro -> livr-eiro.
d)
Circunfixos: afixos descontínuos que
circundam a raiz. Também não acontece na língua portuguesa. Vale lembrar que
esses afixos adicionados não têm significado isolado.
e)
Transfixos: afixos descontínuos que atuam
em uma raiz descontínua. Exemplos em hebraico. Não existe na língua portuguesa.
II) Reduplicação: ocorre quando um fonema é reduplicado, gerando ou não
modificações. É interessante saber que em latim, grego e sânscrito a
reduplicação é associada à flexão verbal. Esse processo pode ocorrer antes, no meio ou
depois da raiz, e pode ser repetida toda a raiz ou apenas parte dela. Nas
línguas crioulas está associado às noções de intensidade, interação e
distribuição. Importante lembrar que segundo Petter, a reduplicação não existe
em nossa língua, a não ser nos casos da linguagem infantil (exemplos: papai; mamãe; vovó; titia).
III) Alternância: é a substituição de alguns segmentos da raiz por
outros de forma NÃO arbitrária. Exemplos em inglês: foot/ feet/ man/men. A
alternância entre as vogais dentro da raiz é estudada pela lingüística
histórica e é dividida em apofonia e metafonia.
IV) Subtração: retirada de alguns segmentos da base. No português, por
exemplo, alguns femininos são formados por meio de subtração, como em órfão/órfã; anão/ anã.
Observe agora esta imagem:
De que trata? Qual é a mensagem que ela quer
transmitir? Onde está um humor?
Podemos ver um prato com macarrão e ovos fritos e ao lado
uma caixa com alguns ovos ainda crus e neles pintados com caneta expressões
faciais de medo. O humor se encontra justamente nessas expressões. Elas
mostram o medo dos ovos crus de terem o mesmo fim que seus “colegas” que estão
fritos.
Agora, por último, como um exemplo final, vamos analisar a palavra ovo, que mostra que uma palavra não
sofre apenas um dos tipos de processo morfológico, mas pode ocorrer uma
combinação de vários deles.
A palavra ovo no plural ovos sofre uma sufixação do morfema
{-s}, que dá o sentido de plural, e a alternância entre os fonemas entre [o] e
[o arredondado].
[o arredondado].
Thaiza,
ResponderExcluirTua postagem está muito boa, mas apenas para refletir: e a reduplicação que ocorre em onomatopeias como tique-taque ou em objetos como pula-pula?
Parabéns pelo uso do gênero textual!